5 de mar. de 2015

A era do "del"

Sou da geração que a máquina de escrever mais moderna era "Olivetti".

Eu não tinha a máquina elétrica, aliás eu não tinha máquina de escrever, era a minha mãe quem tinha e adorava. Eu ficava ao lado dela vendo-a digitar e achava o máximo. Até aqueles livrinhos de curso de datilografia eu tinha. Também não era eu, era a minha mãe dona dele, mas eu abria e ficava fazendo aquele "asdfg" "clkjh" para treinar minha digitação de forma correta e rápida. 

Naquela época se você errasse na digitação já era. No máximo o que você poderia fazer era usar o famoso "branquinho" ou a versão dele em papel. Baita trampo e não ficava tão bonito quanto se não errássemos.

Sou da época da máquina fotográfica com filmes. Filmes de 12, 24 ou 36 poses. Tirávamos fotos e esperávamos ansiosos para que todas as fotos saíssem e nenhuma queimasse. Uma viagem linda ficava guardada a 7 chaves naquele potinho de filme. Se abrisse o potinho e uma gota de luz caísse, já era! O filme todo era perdido. Se você estivesse feio(a), no seu pior perfil, com barriga aparecendo, mais gordinho(a), sem batom, enfim do jeito que fosse a revelação aconteceria. 

Sou da geração que usava enciclopédia para trabalhos de escola e faculdade. Enciclopédia Barsa, Conhecer e por ai vai. Precisava pesquisar sobre algo? Enciclopédia. Livros. Artigos. Textos. 

Eu tinha telefone. Em casa ou no orelhão. Não tinha como avisar a ninguém aonde estava do caminho de casa ao trabalho e nem do trabalho para casa. Ou em qualquer outro lugar. Celular quando chegou era para ricos e médicos. Ou seja, nós seres comuns tínhamos que esperar para conseguir falar com nossos amigos, familiares, etc.

Estava quase me formando quando a internet discada chegou ao Brasil, esperávamos ansiosos para que a ligação ao provedor não caísse e conseguíssemos acessar sites, o antigo ICQ e achávamos o máximo mesmo com a lentidão que tinha.

Ou seja, sou da geração do "temos que esperar" e " não podemos apagar o que fizemos" e agora estamos na geração do "é tudo para já" e qualquer coisa "deletamos". 

Computador. Note. Tablet. Celular. Internet. E-mail. Messenger. Orkut. Facebook. Whatsapp.

Na evolução dos acontecimentos hoje não temos tempo, mas podemos deletar, bloquear, eliminar tudo o que não queremos no mundo virtual, só que na vida real, não temos esta possibilidade.

A vida real precisa de tempo, paciência, espera, dedicação, amor e a capacidade de tolerar.

Eu vivi quando telefone era no orelhão e minha mãe não morria por isto. Hoje as pessoas (e eu também me incluo porque me adaptei as novidades tecnológicas muito bem tenho até blog!) morrem de ansiedade por uma não resposta de um whatsapp. A ansiedade é mal do século. Quem não toma um remedinho para dormir? (tirando eu)

A nova geração não tem a recordação que eu tenho, mas pode pensar num mundo sem esta velocidade na informação e com menos para já, mais contato e menos deletar.

A vida ensina que deletar dói, mas o mundo virtual diz que qualquer coisa é só deletar. A nossa vida é a real. O nosso momento é único. Respirar. Ouvir. Andar calmamente. E esperar uma ligação no nosso telefone fixo pode ser até legal se você não ficar no whatsapp.

Eu não quero usar o "del" eu quero escrever e errar sem a opção da borracha, pois isto é aprender a viver.





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